Renata Aquino Ribeiro
Renata Aquino Ribeiro

Por Renata Aquino Ribeiro. Pensar na formação de professores com tecnologia vai além da atualização profissional. Pesquisas evidenciam que o campo das tecnologias na educação traz implícito temas que ainda não foram amplamente explorados como os referentes à documentação e levantamento histórico de melhores práticas.

Outra dificuldade de determinar práticas docentes em tecnologias na educação é o caráter multifacetado do tema. A interligação com educação à distância faz com exista uma grande quantidade de trabalhos de uso da tecnologia educacional em cursos online e a quase inexistência de publicação sobre a prática do professor que utiliza as tecnologias em aulas presenciais.  De acordo com a professora Dra. Léa Fagundes, em entrevista publicada no blog Web Currículo (http://bit.ly/lfag), ao mesmo tempo em que se traz a questão da integração das tecnologias ao currículo, a escola precisa estar inserida na cultura digital, para que possa criar práticas inovadoras.

Pesquisas mostram ainda que os pesquisadores trabalham mediante uma perspectiva centrada apenas nos recursos tecnológicos ou pedagógicos, sem uma efetiva integração entre essas áreas. De acordo com o professor José Armando Valente, em seu artigo “O papel do Computador no processo ensino-aprendizagem”, é fundamental se discutir a relevância da tecnologia na educação nas investigações das melhores práticas nas escolas, uma vez que o professor precisa manter sua visão crítica no planejamento das atividades com o uso da tecnologia e não pode deixar sua aula transformar-se apenas em um momento de uso de computadores.

Apesar do consenso de que faltam informações para se trabalhar com práticas inovadoras no uso das tecnologias, cada vez mais educadores aventuram-se em suas próprias descobertas é já é possível identificar tendências de que as práticas inovadoras em tecnologia na educação têm seu foco na Web 2.0.

Pode-se afirmar que a utilização da tecnologia na educação deixou de ser uma realidade distante para muitos educadores, uma vez que ações como as realizadas pelos Ministérios de Educação têm levado os equipamentos computacionais às escolas e desenvolvido ações de formação continuada de educadores para o uso pedagógico das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC).

Neste cenário é necessário que o professor tenha informações sobre o que se desenvolve nas escolas brasileiras, além de como se utilizar as ferramentas disponíveis na web 2.0 para a realização de um trabalho coerente de integração entre a tecnologia e o currículo. O que contrasta com a dificuldade de se encontrar documentação sobre os projetos já desenvolvidos por não haver um banco de dados que aglutine tais informações. É como se cada escola tivesse sempre que dar os primeiros passos.

Diante de tal desafio, em 2008, o grupo de pesquisa “Formação de Professores com Suporte em Meio Digital” liderado pela professora Maria Elizabeth Almeida (Programa de Pós-Graduação em Educação: Currículo da PUC-SP) chegou à necessidade de se realizar um seminário com o objetivo de reunir a discussão teórica a respeito da integração entre a tecnologia e o currículo as práticas inovadoras realizadas pelos professores junto aos discentes de escolas públicas e privadas. Criou-se então o Seminário Web Currículo PUC-SP (evento que terá sua 4ª edição em 2014).

Durante a elaboração do I Seminário Web Currículo, foi criado o blog “Web Currículo PUC-SP” (http://webcurriculo.wordpress.com) com o objetivo de apresentar informações sobre o evento. Posteriormente, o blog assumiu o caráter de difusor de informações e tendências nas áreas de Educação e Tecnologia.

Ao se pensar na integração das tecnologias ao currículo é preciso se ter claro que tal visão deve buscar integrar o uso da web, o conhecimento científico sistematizado e as experiências que os alunos trazem da sua vida e contexto o que ficou claro na análise dos anais de Seminários Web Currículo (período de 2008 a 2012). É possível examinar nesses materiais que os educadores buscavam propor inovações em suas práticas de modo a potencializar as características do currículo.

As tendências identificadas nas práticas de integração da tecnologia ao currículo, presentes nos trabalhos destacados, são múltiplas e pautam-se por conceitos mais próximos da Web 2.0 como colaboração, autoria e compartilhamento. Multimídia, Ambientes Virtuais, Mobilidade e Redes Sociais foram as categorias que mais agruparam os artigos analisados no blog e nos anais dos Seminários Web Currículo.

A categoria Multimídia pode indicar, a um leitor desavisado, algo menos inovador, porém, ao se fazer a análise percebe-se que o uso desses recursos ganha nova roupagem com a publicação multimídia online, o uso da web para produção de mídia e a mobilidade com laptops e celulares. Se antes era comum colocar alunos em sala para assistir a filmes “educativos”, hoje são os educadores e educandos os protagonistas dessas produções. Eles pesquisam, roteirizam e capturam um novo olhar da realidade a partir das próprias experiências e concepções do mundo digital, cultural, econômico e social.

A categoria “Ambientes virtuais” mostrou a integração com ferramentas Web 2.0 e a participação ao vivo à distância em debates online e o uso de podcasts para aprendizagem. Já a “Mobilidade” é uma categoria que nos leva a compreender a influência que os dispositivos móveis de comunicação têm no cotidiano da educação. A pesquisa com tablets, celulares e laptops educacionais, a mobilidade e o uso da Web, as atividades com áudio e vídeo fora da sala de aula são exemplos de práticas que os professores têm incorporado.

Por fim, a categoria “Redes Sociais” uniu, de certo modo, as anteriores como um tecido em um tear. O conteúdo online, a publicação em sites e redes, a investigação de temas de vanguarda encontra espaço nas redes sociais. A incorporação de redes sociais online realmente amplas, vivas e abertas para o ensino e aprendizagem ainda é um panorama novo para as escolas.

Neste sentido, procura-se contribuir com a educação ao propor aos docentes conhecer, experimentar e ousar nas atividades de integração das tecnologias ao currículo a partir de relatos mapeados de práticas de outros professores. As experiências e lições apreendidas são um rico manancial de conhecimento para as futuras gerações profissionais e devem ser um foco de estudo. O movimento contínuo de documentação e compartilhamento aprimora as práticas, direciona sua transformação e criação de novas experiências. Pode-se dizer, porém, que o inacabado é a característica da busca da melhor prática que vai levar o professor ao movimento da busca, desacomodador e inquietante, que faz com que a análise das estratégias para o uso da tecnologia se aperfeiçoe sempre.

Renata Aquino Ribeiro. Doutora em Educação: Currículo – Linha de Pesquisa Tecnologias na Educação na PUC-SP (2012), editora do blog Web Currículo e parte da comissão organizadora do evento bienal internacional. Experiência na área de Comunicação e Educação, com foco em Tecnologias e Educação atuando principalmente nos seguintes temas: tecnologia, educação, cibercultura, internet e ativismo.

Este artigo foi desenvolvido por Renata Aquino Ribeiro e Monica dos Santos Mandaji  no contexto das investigações sobre o tema Web Currículo na linha de pesquisa em educação e tecnologia, do programa de doutorado em Educação: Currículo na Pontifícia Universidade de São Paulo.

3 COMMENTS

  1. Desde hace poco más de una década me he estado dedicando a investigar cómo se puede integrar el empleo de la informática educativa, la televisión y otros medios audiovisuales, al desarrollo de la clase en el aula. Voy a leer cuidadosamente este artículo, que me parece muy interesante. Saludos y éxitos a la maestra Renata Aquino Ribeiro, con la cual me interesaría comunicarme.

  2. Excelente visão acerca da formação de professores com a integração da tecnologia ao currículo. Gostaria de ver mais realidades no ensino superior com o depoimento de colegas.

  3. O olhar deste artigo para o uso de tecnologia pelas escolas condiz com as práticas que presencio com o grupo de professores que tenho contato. Percebo uma ansiedade por “necessitar” usar tecnologia na educação, mas acompanhada de medo, insegurança e despreparo, onde observa-se apenas o aparato tecnológico desconectado com o conteúdo a ser ministrado. Existem três perfis de profissionais: os que estão há anos atuando, quase na aposentadoria, e não querem se envolver com essa nova realidade; aqueles que, mesmo há anos na prática educativa, querem se aprimorar, mas lhes faltam conhecimento e formação; e os jovens, recém formados, que o fazem da forma que acham que deve ser, como conseguem, também sem o preparo da universidade. O cenário hoje contempla os instrumentos, mas ainda precisa de muito avanço sobre o que fazer com todo esse instrumental.

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